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NOTÍCIA

Curso de Psicologia cria campanha contra a violência doméstica

Publicado em: 03/04/2020 às 15:03

Questão do isolamento pela Covid amplia estatísticas; encorajamento para a denúncia é foco da campanha, que circula nas redes sociais

Trabalho acadêmico resulta em campanha na internet
Trabalho acadêmico resulta em campanha na internet

Física, psicológica, verbal, moral ou patrimonial. São diversos os tipos de violência doméstica com registro em delegacias de todo o país, e muitos outros casos sem registro. Entre os desafios trazidos pela Covid-19, se sentir segura dentro de casa é um deles. Estatísticas mostram um aumento do número de vítimas de violência nesse momento de isolamento social, principalmente contra a mulher.

Na Universidade Paranaense – Unipar, em Cascavel, o tema virou campanha de conscientização e circula nas redes sociais - “A cidade parou, mas a violência não. Não se cale, não consinta, denuncie!”.

A temática já fazia parte do plano de ensino do curso de Psicologia, antes mesmo da pandemia. O assunto está sendo trabalhado na disciplina de Psicologia e Direitos Humanos, ministrada pela professora Geysa Apel à turma do 5º ano.

Ao preparar as aulas, a docente observou, por meio de pesquisas, que no Estado do Rio de Janeiro a violência cresceu devido à quarentena, chegando a quase 50%. “As pessoas estão mais nervosas, preocupadas e irritadas, com medo de perder o emprego e, algumas pessoas, devido ao ócio, estão fazendo mais uso do álcool”, sinaliza a psicóloga.

De acordo com pesquisas, somente no Estado do Paraná, houve um aumento de 15% nos registros de violência atendidos pela Polícia Militar, no primeiro fim de semana de isolamento. A professora também levantou dados com a imprensa local e Conselho Tutelar, demonstrando que o índice de casos no município também aumentou. “O curioso é que não são as vítimas que denunciam, são os vizinhos, devido ao silêncio da cidade, os vizinhos ouvem e estão ligando”, pontua.

A professora também lembra que violência doméstica não é só marido batendo em mulher, mas também há ocorrências de mães espancando crianças.

Com as aulas acontecendo na plataforma Classroom do Google for Education, a professora lançou um desafio aos alunos, de criarem uma campanha ressaltando a importância da denúncia, pois considera que “da mesma forma que a população entende que se estiver com um problema de saúde ‘não grave’, por exemplo, não deve ir ao hospital por causa do coronavírus, também interpreta que não vai adiantar procurar a Polícia, pois tem que ficar em casa mesmo”.

Engajada na ação, a acadêmica Sarah Carolina Klein compartilha que as aulas têm sido muito proveitosas, possibilitando discussões essenciais, como o crescimento dos registros de violência doméstica no Brasil, desde o início do isolamento social, e os possíveis impactos psíquicos, emocionais, físicos e sociais que esse contexto pode acarretar, como por exemplo um maior distanciamento da rede de apoio - seja ela a família, o trabalho ou serviços de Assistência Social, que no cotidiano assistem essa mulher. E, ainda, influências na vida sexual, baixa autoestima, dificuldade em pedir ajuda, entre outras.

Sobre o estudo, a aluna analisa que “nos momentos em que o deslocamento não está restrito, milhares de mulheres já sofrem violência doméstica e, muitas vezes, são impedidas de sair de casa e conviver socialmente. Assim, compreende-se que o cenário do coronavírus acabou por potencializar essa questão, e não por criá-la. Outro ponto é a omissão de vizinhos às práticas de violência, que se silenciam por achar que não devem interferir na vida alheia”.

Para a aluna, a campanha surgiu com o intuito principal de conscientização, de informar que não é necessário sair de casa para denunciar a violência doméstica. “Não devemos ser omissos ao notarmos uma situação de agressão na vizinhança, pois a violência contra a mulher é um problema de saúde pública, que traz altos riscos à vida e ao bem-estar das mulheres. A conscientização é um dever social, somente com união de forças é possível romper os processos de violência”, afirma.

Outra acadêmica envolvida, Eloísa Pompermayer Ramos, avalia que essa mobilização tem total relação com a Psicologia, considerando o Código de Ética, que atribui ao profissional a promoção da saúde e ações contra todo tipo de violência, bem como o compromisso ético de contribuir com a população por meio da universalização do acesso à informação.

“Enquanto acadêmicos temos um papel e compromisso já firmados com a sociedade, e sentimos o dever de realizar uma ação que pudesse colaborar nesse momento. Contudo, a campanha também contribui para a nossa formação, nos mobilizando a pesquisar sobre o tema, buscar o pronunciamento da ONU Mulheres, ampliar conhecimentos, pensar o que poderíamos fazer enquanto profissionais, se inseridos nos serviços, melhorando as relações intrafamiliares.

A aluna acrescenta que o trabalho proporcionou recordar discussões que aconteceram em outras disciplinas e momentos na Universidade, como diálogos da matéria de Intervenções em Psicologia, em que refletiu-se sobre o papel do psicólogo frente a contextos de emergência e desastres.

“A Psicologia está presente em todos os espaços, visa promover a saúde e tem um compromisso ético-político com a sociedade; é importante que possamos levar o conhecimento e reflexões para fora do âmbito acadêmico e das nossas salas profissionais”, diz.

 

CANAIS DE ATENDIMENTO PARA DENÚNCIA:

Direitos Humanos - 180

Polícia Civil - 197

Polícia Militar - 190

Guarda Municipal de Cascavel – 157

 

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