Experimento usa genética molecular para avaliar teor proteico de trigo
Publicado em: 10/08/2010 às 15:30
Feito em Cascavel e apresentado em dissertação do mestrado em Biotecnologia Aplicada à Agricultura, chamou a atenção de profissionais da área e é preparado agora para publicação
Os projetos de pesquisa da Universidade Paranaense – UNIPAR têm recebido destaque não só em eventos universitários, como também nos de grandes organizações nacionais. Os bons resultados devem-se ao esforço dos alunos e empenho dos professores e Instituição, na busca do estímulo à consciência científica.
Exemplo é o mais novo resultado comemorado na ala da pós-graduação. A acadêmica Patrícia Chapla, orientada pelo professor doutor Ivan Schuster, encerrou um experimento que gerou dissertação no mestrado em Biotecnologia Aplicada à Agricultura da UNIPAR. Com duração de um ano, o objetivo foi validar [uma vez que este método já se encontra descrito na literatura internacional] o método de seleção para o potencial de panificação das cultivares de trigo, a partir da análise de uma ou de poucas sementes, sem a necessidade de obter a farinha.
O estudo foi feito na Coodetec (Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola), em Cascavel. “As cultivares de trigo foram produzidas em Palotina, em duas épocas de plantio, e em Cascavel. As sementes obtidas foram enviadas ao moínho para obtenção da farinha e avaliação da qualidade dessa farinha pelos métodos oficiais. Uma pequena quantidade de sementes foi enviada para o Núcleo de Biotecnologia da Coodetec, onde foram realizadas as análises da composição de gluteninas”, explica a mestre.
Ela conta que já se preparava com antecedência para elaboração do projeto, com revisão de artigos e organização de dados. “Com o acompanhamento do meu orientador, dediquei dois anos nas pesquisas necessárias... buscávamos dados que ainda não tínhamos, então tivemos que fazer muitos testes de protocolos para ver se poderíamos continuar com o projeto”, explica. “Acredito que o que fiz tem fundamental importância”, completa.
Schuster confirma. “O trabalho atingiu os objetivos. A técnica foi validade e passou a fazer parte dos processos de seleção do programa de melhoramento de trigo da Coodetec”, informa, destacando que isso demonstra a aplicabilidade do método e também demonstra que a pesquisa científica pode gerar tanto produtos como processos.
“Neste caso, a pesquisa validou um processo e este processo passou a ser usado para melhorar a eficiência do programa de pesquisa de trigo de uma empresa”, orgulha-se o professor. Ele adianta ainda que o artigo referente à dissertação já está sendo preparado para publicação.
“A experiência foi incrível! Acho que todas as pessoas que fazem a pós-graduação esperam contribuir, de alguma maneira, para a sociedade. Comigo não foi diferente. Aprendi muito com todos os professores, com a equipe de trabalho da Coodetec; enfim, foi gratificante desenvolver a pesquisa, pois me abriu muitas oportunidades de expandir meus conhecimentos”, arremata Patrícia.
Processo Científico
De acordo com o professor doutor Ivan Schuster, a variação nos tipos de gluteninas e gliadinas (proteínas do glútem), presentes nos grãos de trigo, define a aptidão da farinha para a panificação: “Esta variação na composição das gluteninas é definida pela constituição genética das variedades. Algumas variedades possuem genes que atribuem maior aptidão para produzir farinhas para panificação, enquanto outras possuem genes que dão mais aptidão para a confecção de biscoitos, por exemplo”.
No trabalho realizado, as subunidades de gluteninas de alto peso molecular (aquelas que estão relacionadas com a qualidade da farinha para a panificação), foram separadas e identificadas em gel e, com base na constituição destas proteínas, a qualidade do trigo foi predita. “As variedades de trigo usadas no estudo foram cultivadas em três ambientes diferentes (locais e épocas de cultivo) e, após a colheita, obteve-se a farinha dos grãos que foi avaliada da forma convencional, no moinho de trigo, para verificar sua aptidão para panificação”, explica.
Schuster explica ainda que os resultados das análises de proteína, feitas a partir dos grãos de trigo, e das análises de qualidade, feitas a partir da farinha no moínho, foram comparados para verificar/validar a acurácia da predição do potencial da qualidade de panificação de uma variedade de trigo a partir da análise de poucos grãos.
Por meio dos resultados das análises da qualidade da farinha, realizado no moínho pelos métodos oficiais, foi possível observar que algumas variedades produziam farinhas com bom potencial para panificação em um ambiente de cultivo, mas não em outros, enquanto outras variedades sempre apresentavam bom potencial para panificação, independente do local de cultivo.
“Estas cultivares que sempre apresentavam as melhores qualidades de panificação, independente do ambiente de cultivo, apresentavam também a constituição de proteínas que está relacionada com alta qualidade de panificação, enquanto que as cultivares que apresentavam composição de proteínas associadas com a baixa qualidade de panificação, apresentavam maior instabilidade na qualidade de proteína quando avaliadas pelos métodos oficiais, com amostras de diferentes locais”, ratifica Schuster.
Com este experimento, segundo Schuster, foi possível confirmar que a composição das gluteninas de alto peso molecular pode ser utilizada para prever a estabilidade do potencial de panificação da farinha obtida pelas cultivares de trigo: “Com isso, é possível avaliar o potencial da qualidade de panificação das cultivares de trigo através da avaliação de poucas sementes (até mesmo de uma única semente), sem a necessidade de obter a farinha. Isso torna possível selecionar plantas com alto potencial para qualidade de farinha nos programas de melhoramento enquanto ainda não há grãos suficientes para produzi-la”.