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F Beltrão: Semana Acadêmica de História aborda atuação do nazismo no Paraná
Publicado em: 08/10/2015 às 16:20
Pesquisador da UFMS e autor do livro ‘O Partido Nazista no Paraná’, Rafael Athaíde foi o convidado da palestra de abertura
Uma história pouco conhecida, muito polêmica e cheia de mitos. Assim foi a passagem do partido Nazista pelo Brasil. Na década de 1930, o partido ganhava forma e atuava livremente no país, mas isso durou até a Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil se aproximou dos Estados Unidos e passou a proibir a atuação partidária de estrangeiros em território nacional.
A afirmação é do professor doutor Rafael Athaíde, autor do livro "O Partido Nazista no Paraná (1933 - 1942)", que abriu a Semana Acadêmica do curso de História da Universidade Paranaense – Unipar, Unidade de Francisco Beltrão. Os 70 anos do término da 2ª Guerra Mundial é o eixo temático do evento.
O palestrante, pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, frisou que muitos autores já desconstruíram a ideia de que as comunidades germânicas do Sul do Brasil trabalhariam sorrateiramente para anexar seus respectivos Estados ao 3º Reich. No Paraná, o partido Nazista estava concentrado em Curitiba e o alvo eram os alemães natos, apenas os que nasceram na Alemanha. As aspirações principais da organização eram levar a doutrina nacional-socialista aos alemães residentes fora da pátria-mãe e, onde fosse possível, encabeçar organizações de caráter germânico no Brasil, como clubes e consulados.
No Estado, chegaram a existir nove filiais, principalmente na região dos Campos Gerais. Em Castro, por exemplo, havia uma companhia colonizadora alemã e a participação foi mais intensa. “Eles não tinham interesse em se misturar na política brasileira, disputando eleição, mas reunir os alemães fora do seu país em torno da ideologia nazista, na preservação do germanismo, entendido como a preservação da pureza racial, da língua e da identidade cultural alemã”, explicou o palestrante.
No Brasil, segundo ele, estima-se que havia em torno de 4.500 filiados, a maioria concentrada nas regiões Sul e Sudeste. No Paraná, há registros de 192 filiados, mais na metade residindo na capital. “Evidentemente, o número é pequeno se considerarmos que cerca de 100 mil alemães imigraram para o Brasil no período entreguerras e, potencialmente, poderiam ingressar no partido”, afirmou Athaíde.
Em números relativos, a adesão era pequena, se levarmos em conta que residiam no Estado cerca de 12.000 pessoas indicadas pelo censo como alemães natos: menos de 2% dos aptos se filiaram ao partido. Em geral, os militantes eram jovens (entre 25 e 35 anos), pertenciam à classe média, ou média alta, e trabalhavam como empregados em empresas alemãs, às quais mantinham constantes ligações com a pátria-mãe.
O fim do partido
A ação efetiva do Partido Nazista no Brasil terminou pouco tempo depois da decretação do Estado Novo de Getúlio Vargas, em 1938, que proibiu toda atividade político-partidária aos estrangeiros. Em 1942, com o envolvimento do Brasil na Segunda Guerra ao lado dos Aliados, os nazistas foram definitivamente caçados.
De acordo com o palestrante, não houve deportação, porém o Estado brasileiro perseguiu os nazistas (e, por tabela, qualquer alemão “suspeito”) em dois momentos: a partir de 1938, por serem eles estrangeiros “não aculturados, inúteis ao projeto homogeneizante de Vargas”, e após 1942, por serem os alemães inimigos de guerra. “Muitos foram levados para o presídio de Ilha Grande/RJ e mantidos como prisioneiros de guerra. Em outros países da América Latina houve deportação para os EUA”, informou.
O pesquisador também sustenta que as manifestações neonazistas, que vez por outra surgem no Brasil, nada têm a ver com o Nazismo histórico: “Não há muitas dúvidas de que o fenômeno do neonazismo no Brasil não tem qualquer relação com a Seção Brasileira da NSDAP dos anos 1930; muito menos, com a presença de populações de origem germânica no Paraná e nos outros estados do Sul”. Para ele, o neonazismo é praticado por jovens que buscam uma identidade, muitos dos quais se quer são descendentes de alemães, praticando atos de violência, homofobia e racismo. “Temos políticos atuais que têm ideias muito mais próximas do Nazismo, que sustentam uma ideia militarista”, afirmou Athaíde.