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Cascavel: Evento discute sofrimento contemporâneo, sexualidade e drogadição
Publicado em: 07/08/2012 às 15:20
Em torno da temática, cursos de Psicologia e História promoveram debates durante toda a semana
Sofrimento contemporâneo, sexualidade e drogadição’ foi a temática do 11º Simpósio de Psicologia, 3ª Conferência Multiprofissional – Clínica Ama, e 13ª Jornada Acadêmica de História da Universidade Paranaense – Unipar, Unidade de Cascavel. Palestras, minicursos, mesa de debates e apresentações de trabalhos científicos, na forma oral e painel, marcaram o evento.
A palestra de abertura discutiu ‘Os novos modos de sofrimento na pós-contemporaneidade’, com o professor doutor em Psicanálise Jorge Sesarino. “Se a pessoa não encontra um sentido para a vida, vem o sofrimento”, enfatizou, lembrando que, na modernidade, o mercado diz o que fazer para ser normal, saudável, reconhecido e feliz: “Nos pede que sejamos um ideal de esposo ou esposa, profissional, cidadão”.
O psicanalista ressaltou que o homem vive um mundo de falsas promessas e valores, e mente quando diz que é preciso consumir para ser mais feliz. “Temos casa, carro e luxo, mas não vemos nossos filhos crescerem e estamos endividados”, alertou.
Em sua fala afirmou que o ser humano vive em busca da felicidade, mas não sabe quem é e nem o que está fazendo e, quando se junta com a massa, perde os valores, por esquecer que é único: “A consequência é o adoecimento, o corpo fala, grita, doe”.
Pontuou, ainda, que esta sociedade de troca, em constante mudança, faz com que o homem se afaste da culpa e da vergonha, dando espaço às patologias das adições, estados de angústia, desespero, solidão, obesidade e uso drogas. “O sofrimento do indivíduo passa a ser de toda a família. Como diz Freud, somos egoístas, temos um amor narcísico – te amo, mas te mato – ou um amor maduro - aquele que sabe que precisa buscar no outro o que lhe falta”.
Durante a semana, na mesa de debates, foram levantadas questões como ‘O amor e seus (des) prazeres’, pelo doutor Sesarino. O professor diz que primeiro vem o amor, depois os sintomas, as discussões e as diferenças como valor e (des) valor. Amar é saber o sentido da vida e da satisfação e quando esse saber fracassa vem o sofrimento”, disse, complementando que amor é encontro, laço, compromisso e renúncia.
Convidada, a psicóloga e pedagoga Maria Margarida Abrunhoza falou sobre ‘Ser criança e adolescente e os desafios na pós-modernidade’, refletiu o declínio do patriarcado e influências na sociedade: crianças e adolescentes sem referências e sem modelos, o consumo como tentativa de preenchimento da angústia (álcool/drogas/comida), a sexualidade que exclui a afetividade e as relações virtuais que a sociedade anestesiada ou apática.
Contribuiu com os debates o historiador doutor Claércio Ivan Schneider, que abordou os sofrimentos na História do Brasil, revelando o sofrer, do que o homem sofre, qual a sua maior dor e se ela é individual ou coletiva. Apontou as diferenças entre sofrimento e dor e, se existem formas de superar o sofrimento ou ele é constituinte da natureza humana.
Com a palavra, a historiadora Claudiana Soerensen, demonstrou o que é ‘A sociedade do espetáculo: do licito e ilícito’, afirmando que “o nosso tempo prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser”. A professora disse que o mundo é um teatro e cada um, individualmente ou em grupo, teatraliza ou é ator consoante às circunstâncias em que se encontra.
Compreendendo as discussões sobre cultura e drogadição, a assistente social Neusa Cerutti palestrou sobre ‘Redução de danos: repensando a saúde pública’. Segundo ela, o objetivo do sistema é minimizar as consequências do uso de drogas e contagio por HIV, sendo as políticas orientadas pelo respeito à liberdade de escolha. Apontou ações de erradicação de plantações e destruição de princípios ativos; de repressão a produção, ao refino e tráfico de substancias, de combate a lavagem de dinheiro e de fiscalização e controle da produção e comercialização.
Na programação, outro tema também atraiu o público: ‘A construção da sexualidade: Freud e Lacan’, com a professora mestre Michaela Laurindo. Conforme afirma, a sexualidade no humano não é um dado natural, à diferença dos animais, mas precisa ser construída, sendo uma complexa relação de dependência, fixações e identificações.
Em seu momento, a professora doutora Rejane Coelho discorreu sobre o tema ‘A infância violada: falando sobre violência sexual’, definindo o abuso e suas categorias: abuso sexual, físico, emocional e negligência. “A violência sexual, por seu caráter íntimo e relacional, é peculiar e se reveste de uma extrema gravidade; é organizadora de estruturas psíquicas e sociais”.
O assunto ‘Gênero, sexualidade e história’ foi abordado pela doutora Carla Conradi, que diferenciou identidade de gênero (homem/mulher), orientação sexual (homo/bi/hétero) e sexo biológico (macho/intersexual/fêmea).
Para encerrar os trabalhos foi abordado o tema ‘Toxicomania: paradigma sintomático da pós-modernidade’, pelo psicanalista Juan Fernando Peña. O palestrante fala que a toxicomania é um modo de satisfação, que não necessariamente refere-se ao uso de drogas lícitas ou ilícitas, mas ao consumo exagerado, de bebidas, internet, videogame, cartão de crédito, sexo e compras.