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Paranavaí: TCC de Sistemas de Informação estuda interface cérebro-computador
Publicado em: 03/12/2010 às 15:10
Aplicativo auxilia população com limitação de fala e permite que computador ‘leia’ pensamento do homem
Entender o funcionamento do cérebro humano e auxiliar aqueles que possuem limitações de fala e movimento. Este foi o objetivo do trabalho de conclusão de curso (TCC), desenvolvido pelo estudante Renato Peterman, do curso de Sistemas de Informação da Universidade Paranaense – Unipar, Campus Paranavaí.
Com o projeto intitulado ‘Um estudo sobre interface cérebro-computador e suas aplicações na computação’, Renato Peterman buscou em livros, artigos específicos e trabalhos de renomados pesquisadores, como Miguel Nicolelis, médico e pesquisador brasileiro, referência no estudo da neurociência e em especial na interface cérebro-computador, a base para o desenvolvimento de seu trabalho.
Segundo Renato Peterman, o projeto consiste num protótipo didático que pode ser utilizado em muitas aplicações práticas, utilizando essas tecnologias para mostrar como uma ICC (Interface Cérebro-Computador) pode ser utilizada para interagir com um computador, seja com um software ou com um hardware, como nesse caso, controlando o braço robótico.
“O trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre interface cérebro-computador e os resultados mostram como essa tecnologia pode ser e vem sendo utilizada na área da computação e principalmente na área de acessibilidade digital”, afirma, lembrando que a tecnologia tem auxiliado pessoas portadoras de necessidades especiais (paralisia) a interagir com um computador, utilizando apenas seus pensamentos.
Diz o estudante que, em outros casos mais específicos, também pode ser usada. Exemplo é o controle de próteses, que pode ser feito a partir das ondas cerebrais. “Ao final da pesquisa desenvolvi o projeto utilizando uma interface cérebro-computador para controlar dois microsservos motores que foram dispostos como um minibraço robótico articulado”, informa.
Ou seja, o estudante desenvolveu um aplicativo que identifica as ações do usuário por meio de suas ondas cerebrais. “O projeto foi desenvolvido utilizando a interface cérebro-computador Emotiv® Epoc e um projeto Open Source chamado Arduino, que possui um microcontrolador que controla o braço robótico. A aplicação desenvolvida identifica as ações do usuário através das suas ondas cerebrais; por exemplo, é possível identificar as expressões faciais como piscar os olhos, sorrir e outras, assim como ações cognitivas, como imaginar o motor virando para esquerda e em seguida fazendo com que o motor rotacione para a esquerda, dessa forma utilizando o pensamento propriamente dito”, emenda.
A ideia para tal foco de pesquisa veio do fascínio pela área e da inspiração em filmes e reportagens. “Sempre achei interessante os estudos relacionados ao cérebro; não conhecia muito da área de interface cérebro-computador, mas sempre tive fascínio quando via algo parecido, principalmente nos filmes de ficção científica, onde personagens controlavam dispositivos com o cérebro”, comenta.
Nota dez! Sempre que ouvia falar nesse assunto, achava que era algo voltado especificamente para a área da medicina, diz Renato Peterman. “Mas nos últimos anos isso vem mudando e acredito que com o passar do tempo irá se tornar cada vez mais popular. Tive o meu primeiro contato no 2º ano, em 2008 quando por acaso vi uma reportagem a respeito do tema em um blog de tecnologia; dai comecei a buscar mais informações a respeito e estudar o que já existia”.
O estudo desenvolvido no Centro Integrado de Soluções em Informática, orientado pelo professor mestre Wyllian Fressatti e auxiliado pelo estudante do 2º ano do mesmo curso, José de Moura Júnior, chamou a atenção de professores e colegas de turma, além de render a nota máxima ao estudante: 10,0.
“O desenvolvimento do trabalho contribuiu muito pro meu crescimento profissional e acadêmico; como eu nunca tinha feito um trabalho deste porte, tive muitas dificuldades, porém não desisti da pesquisa e continuei buscando soluções para os problemas, pesquisei muito e estudei muito. A área de Interface Cérebro-Computador não é tão recente, porém ainda há muito a ser pesquisado e desenvolvido e tem ganhado espaço e crescido muito nos últimos vinte anos”, ressalta o formando.
Ele diz que esse empenho tem sido recompensador: “Muitas das aplicações de ICC são na área de acessibilidade e contribuir com algo que pode ser útil para melhorar a vida das pessoas, como no caso de pessoas com necessidades especiais, além do fato de estar contribuindo com algo que possui propósitos muito maiores do que objetivos meramente comerciais, proporciona uma satisfação imensa e me deixa muito feliz. O fato de ter sido atribuída nota máxima ao trabalho só tenho a agradecer a todos os professores que me auxiliaram e tornaram tudo isso possível, em especial a cordenadora professora mestre Claudete Werner que sempre esteve presente quando precisei durante esses quatro anos e sempre me guiou durante a minha trajetória na Universidade. É muito gratificante receber esse reconhecimento e mais uma vez só tenho a agradecer os professores e amigos que tornaram isso possível”, emenda.
O que é? A Interface Cérebro-Computador é um mecanismo que possibilita ao ser humano interagir com o computador/máquina utilizando o cérebro (ondas cerebrais). Estas podem ser invasivas (conectados diretamente no córtex cerebral) ou não-invasivas (eletrodos dispostos sobre o couro cabeludo, geralmente utilizam EEG).
Renato Peterman explica que o nosso cérebro, quando em atividade, produz correntes elétricas que podem ser captadas na superfície do cérebro (córtex cerebral, massa cinzenta...) ou também podem ser captadas na superfície externa do crânio (couro cabeludo, escalpo...). “As ondulações desses potenciais elétricos registrados são chamados de ondas cerebrais e o estudo do registro dessas ondas recebe o nome de EEG (eletroencefalografia) e é muito utilizado na medicina, principalmente para estudo do sono e epilepsia”, complementa a coordenadora do curso, professora Claudete Werner. “A partir dessas ondas captadas é possível identificar padrões que permitem identificar determinadas ações do usuário, como expressões faciais, ações cognitivas (pensamento) e emoções”.
No que se refere à acessibilidade digital para pessoas que possuem necessidades especiais, ela atenta que nos últimos dez anos alguns dispositivos vem sendo desenvolvidos para serem utilizados também em jogos e entretenimento.
“Não é possível prever o futuro, mas o que poderia ser considerado algo fictício ou utópico, há alguns anos, hoje faz parte da realidade de muitos pesquisadores e usuários e não vai parar por ai. As pesquisas nas áreas de ICC têm se tornado mais promissoras a cada dia e é possível que nos próximos anos estas tecnologias se popularizem cada vez mais, com aplicações em diversas áreas, entre eles acessibilidade, entretenimento, neuropróteses, medicina e muitas outras, tornando a vida das pessoas mais fácil e acessível”, ressalta a professora.